sexta-feira, 12 de junho de 2015

Em Campos dos Goitacá RJ: Fragmentos de uma elite que come migalhas imorais para se manter no topo de não se sabe o que.

Como entender certos cidadãos do nosso município de Campos dos Goitacá - interior do RJ - que se prestam a servir de verdadeiros fantoches para agradar ao poder municipal em detrimento de suas próprias histórias e da dignidade de seus familiares e entes queridos?

Como entender que homens e mulheres que ontem se destacavam desde os bares aos centros de estudo, hoje se prestem a este tipo de coisa? — pois é, existiam bares em Campos que eram verdadeiros fóruns permanentes, onde se discutiam atos e fatos municipais, fossem no âmbito público ou privado, fórmulas, estratégias e ações para se ter uma cidade mais pensada e movimentada por diversos olhares.

Era comum o encontro dos jornalistas, professores, artistas, agitadores sociais, sociólogos, arquitetos, ambientalistas, fofoqueiros e pessoas que, embora não ligadas a qualquer tipo de segmento, depois de umas boas cervejas, se destacavam como grandes pensadores livres (enquanto escrevo revejo mentalmente muitos desses personagens...).

Quantas pautas eram introduzidas nas redações oriundas desses bate-papos, quantas peças teatrais brotavam por ali, quantas instituições e movimentos tomaram corpo e forma advindos das necessidades percebidas nessas conversas! 

Muitos desses personagens saíram da cidade para suas vidas acadêmicas lá fora e, até hoje, assistem de longe à cidade que se enveredou por caminhos tortuosos. 

Mas daí também saíram muitos dos que, em vez de estarem com o mesmo sentimento de ver a bucólica Campos dos anos 70, 80 e 90 crescer em seus aspectos sociais e humanos, estavam preocupados com suas aspirações de poder e ascensão pessoal. E, curiosamente, eram os menos dedicados aos estudos ou a uma profissão. Eram os oportunistas  franco atiradores, que com uma capacidade ímpar em absorver com superficialidade os problemas e supostas soluções, tinham em si o ímpeto de se destacar com a disposição de tornar popular o que conviviam nessas rodas. Eram os sanguessugas que hoje são facilmente identificados na sociedade.

Um outro fenômeno daquela época era a distância entre os considerados abastados socialmente e os personagens que lideravam certos  movimentos sociais, considerados sonhadores ou excluídos sociais. Há que se dizer que muitas "ovelhas negras" surgiram dessas supostas famílias de sangue azul que se julgavam acima de tudo, por se imaginarem no tal topo da pirâmide. Estes eram os jovens que, mesmo vivendo nesse universo de bolha social, por um motivo ou outro, procuravam um prisma diferente para entender o seu entorno. Nesses casos, curiosamente. alguns se transformaram em historiadores e sociólogos de destaque. Certamente fruto da autocrítica sócio-familiar.

Mas a grande maioria desses filhos destas tais famílias se preparava para ser independente e alheia aos problemas sociais de Campos, embora desse mesmo povo campista - que subestimava - vivessem, direta ou indiretamente em suas "explorações naturais" de uma relação entre doutos e plebe.

Os "marginais", que pensavam uma “nova Campos” em um momento mais reflexivo, eram ignorados e marginalizados. Mas eis que a inércia dos filhinhos e papais, causada pela necessidade de manter seus patrimônios e fazer mais dinheiro, os afastava do convívio com o povo, o que dá chance àquele grupo de oportunistas dos bate-papos alcançar, aos poucos, espaços na política local. 

Enquanto isto, paralelamente, a cidade assistia à bancarrota de diversas famílias, até então conservadas em suas redomas. Principalmente pela falência do setor sucroalcooleiro e agrícola - e nunca é demais lembrar que um dos motivos desta falência foi de responsabilidade da arrogância, prepotência e ostentação social. Isto se dava porque muitos produtores amealhavam empréstimos subsidiados em bancos públicos, dentro de vários programas de incentivo agrícola para, em vez de investirem em suas plantações e parques industriais, promoverem  disputadíssimas festas sociais que enchiam por semanas as colunas dos jornais locais. Bastava uma filha casar para se lançar mão de empréstimos volumosos para bancar a esnobação. 

Lembro-me de que o Banco do Brasil, na época do incentivo ao uso de carros movidos a etanol (o Pró-Álcool ou Programa Nacional do Álcool, que promoveu a substituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados de petróleo por álcool), fez uma parceria com a Ford do Brasil e oferecia financiamento para caminhonetes. Um fazendeiro adquiriu três unidades; uma delas foi o presente de aniversário de 15 anos de seu caçula (hoje político da região).

E daí?

Daí que esta falência e a troca de mãos da política local fizeram com que estes nomes da linha sangue azul fossem aos poucos se vergando aos que antes eram os marginais, apenas pela proximidade ao poder e aos faturamentos fáceis e quase nunca lícitos. 

São os homens e mulheres que se impunham como independentes que hoje se postam em genuflexo para seguir as ordens de lideres insanos e destrutivos à sociedade. Não encontro justificativa plausível para voltar a respeitar nomes que antes  tinham em seus discursos o reconhecimento e lucidez dos caminhos tortos pelos quais a cidade e o município caminhavam.

Os projetos pessoais e, sem sombra de dúvida insanos de uns e a necessidade inexplicável de se manter no vértice da pirâmide, por parte daqueles críticos de ontem, com certeza deformaram mentes e vidas de muitos que poderiam estar hoje lutando por dias melhores para Campos, porém, se venderam ao bel prazer de estarem junto ao poder, mesmo que este seja apodrecido e desprovido de qualquer responsabilidade social e humana coletiva.
Quase sexagenário, envergonho-me de ter perdido tempo tendo tido muitos destes como companheiros. Pois mudaram seus discursos e suas práticas de forma deslavada e ignorando suas próprias histórias.

Preocupam-me os jovens destas famílias hoje vendidas ao sistema quando amanhã as verdades vierem à tona. Nenhum,  nenhum momento de facilidade momentânea vale a herança maior deixada para os nossos filhos e entes queridos do que a marca da retidão e vontade de acertar juntamente com o mundo em que vivemos. 


Envergonhem-se. Reflitam e se curem desta moléstia aniquiladora de tudo por tudo.